sábado, 22 de dezembro de 2012

Cap VI - Mais Brilhante que o Sol




A música de Colbie Caillat entrava pela janela, tocada em alto volume na casa da vizinha, um lugar que parecia estar em permanente festa.


Oh, this is how it starts, lighting strikes the heart
It goes off like a gun, brighter than the sun
Oh, we could be the stars, falling from the sky
Shining how we want, brighter than the sun  

Mais brilhante do que o sol, realmente, era uma linda chuva de estrelas como jamais vista anteriormente, como se fosse um espetáculo pirotécnico sem som da virada de ano na praia de Copacabana. O céu parecia estar desabando, como seria se o mundo estivesse acabando, mas a vizinha não viu nada. Eu também teria perdido de vista o fenômeno se não tivesse ido até à varanda fumar um cigarro. Quase perdi o fim do mundo, daquele mundo que não era o meu, pelo menos, porque este estava apenas começando.

Muitas coisas aconteceram depois que me separei de Suzy. Entre elas, decidi mudar de nome para me adaptar às novas condições de vida, adotando um nome comum entre os cidadãos do local onde decidi viver: Hélio. Vim morar em uma cidade provinciana próximo a uma grande cidade da América do Sul, onde se esconde grande parte dos salafrários do universo, que fogem de alguém ou de algum lugar. De forma a evitar a proximidade física com Suzy e novos aborrecimentos, utilizei um recurso engenhoso que trouxe de meu planeta natal, que era o de voltar no tempo de forma a garantir a separação conveniente em relação ao problema Suzy. Era início da década de sessenta do século XX do calendário terrestre predominante no lado ocidental do planeta.

O propósito de Hadros, agora Hélio, era construir um novo futuro, diferente daquele que pensava  e arquitetava no seu planeta de origem. Afinal, agora se encontrava em condições completamente distintas do que vivera até então. E diga-se de passagem, era necessário construir um passado também. Hélio não tinha um passado no planeta Terra e, portanto, era necessário inventá-lo. Vivendo assim de uma forma em que o passado não está propriamente definido, Hélio decidiu criá-lo à medida que fosse vivendo, numa espécie de experimento de escolha retardada, adiando suas decisões diárias até o último momento de suas ações, após avaliar cuidadosamente as consequencias, ou seria melhor dizer, as causas que as originaram. Essa quase não decisão já se mostrou muito eficaz anteriormente, técnica esta que ele dominava com maestria, prevenindo-o de muitos problemas inconvenientes. Tal técnica de autogestão pessoal proporciona a seu portador a possibilidade não apenas construir seu passado como também de alterá-lo a qualquer momento.

Hélio chegou em Niterói havia pouco tempo e ainda não conhecia muita coisa, embora tenha se familiarizado rapidamente com o ambiente da cidade e costumava frequentar a praia de Icaraí, onde passeava pelas areias despreocupadamente. Foi em uma dessas caminhadas que encontrou Saturnino, de quem tornou-se amigo e se frequentaram a partir de então. Foi amizade à primeira vista. Saturnino prometeu ajudá-lo a construir o passado desejado, conhecia as pessoas certas para isso, lembrou-se logo de Arturo, outro amigo esquisitão que tinha conhecido também na praia de Icaraí. Pois era isso que Hélio queria, construir seu passado em função do futuro almejado. Passado e futuro, um espectro duplo de possibilidades idealmente correlacionados. Ele e Saturnino viravam noites sentados nos bancos da praia de Icaraí lucubrando sobre as possibilidades da história de vida a ser criada.

A Helio lhe encantavam as mulheres locais. Começou a azarar todas que encontrava pela frente. “O bom é assim”, dizia, “a corte sem necessidade, para que seja natural e simples quando for de fato necessário e desejável.” Envolveu-se tanto com todas que as oportunidades ensejavam que acabou se entusiasmando com uma delas, que só lhe deu o que queria depois de ser levada ao altar. Aos amigos que lhe advertiam sobre a inconveniência de tal matrimônio costumava repetir que nunca dispensava uma mulher bonita, “seja ela de que espécie for”, repetia sempre, como se significasse algo mais do que compreendemos em um primeiro momento.

Seu casamento durou o tempo que uma cigarra canta.

“Não tenho esperança de encontrar uma mulher para amar, uma apenas, porque o que eu amo nas mulheres está dividido entre muitas. A mulher que me satisfaria se fragmentou em incontáveis pedaços e eu agora busco restaurar os cacos espalhados em diversas delas”, ouvimos-lhe dizer.  

“Hélio, sua vida é insustentável. Como pode viver dessa maneira? Você acabará fazendo alguém sofrer dramaticamente”, ousou dizer Arturo, o amigo esquisitão, sacudindo a cabeça ao ouvir tal disparate do amigo, como se apenas confirmasse o que ele já sabia desde o início. Ele era da opinião de que os casamentos são selados no céu e que, uma vez que duas pessoas estivessem predestinadas para se pertencerem, nada poderia separá-las na Terra.

“Tudo que fizermos nesta dimensão dos acontecimentos efêmeros não pode afetar o mundo das coisas que permanecem, daí a necessidade de se colocar à prova as candidatas que encontramos nessa vida, para saber quem de fato deve nos acompanhar até o fim de nossos dias”, arriscou Saturnino, em dúvida sobre o que realmente significava o que acabara de dizer, mas com um forte pressentimento que correspondia ao pensamento do amigo alienígena.

“A ética é como o amor”, Arturo, “deve-se viver o presente, as consequências não importam. Quando se pensa no passado, é porque já se perdeu a paixão. O que você disse pode ser verdade, enquanto opção de vida, espero contudo que a própria vida resolva o problema para mim, sem que eu precise fazer nada”.

Uma ética centrada na transcendência. A traição amorosa não é aceita socialmente, é uma culpa absoluta e imperdoável; certamente não pode, mas deve ser realizada. Hélio era uma espécie de herói trágico, um autêntico revolucionário que afronta o mal e aceita suas consequências. Só a traição realizada por quem sabe firmemente e fora de qualquer dúvida que ela não pode ser aceita sob nenhuma circunstância seria de natureza moral.

Assim, o casamento de Hélio se desfez em um desses ditos testes planejados para caracterização de quem é o ser que deve realmente viver a nosso lado. Constatou-se que a esposa se tratava de uma falsa terráquea, um ser clone que tinha substituído a mulher verdadeira quando ela ainda era uma adolescente. A verdadeira Marilza, era esse o nome da mulher de Hélio, estaria agora em algum subterrâneo do nosso planeta, onde grassam bases militares, como se diz, servindo-se de cobaia de experimentos extraterrestres.  

Depois de Marilza, Hélio conheceu uma bela jovem niteroiense de nome Rosa, com quem viveu um tórrido romance de conseqüências duradouras. A certa altura do relacionamento, devido a diversos obstáculos que surgiram na vida dos enamorados, o casal decidiu fugir mundo afora, e Rosa avisou aos pais que iria de férias para São Paulo. O verdadeiro motivo, um segredo, era viver em plenitude a força de seu amor, por mais bizarro que possa ter sido a escolha de São Paulo para tal cenário.

Rosa viajou para a capital paulista na noite de 12 de Agosto de 1964, em um trem noturno, que lá chegou às 8h15min do dia seguinte. Infelizmente, o amor de Rosa não resistiu aos testes que Hélio a sujeitou e o romance terminou indesejadamente ao cabo de um mês, com Rosa voltando decepcionada para Niterói, curiosamente tornando verdadeira a mentira que alegara a seus pais ao partir para São Paulo. No ônibus em que regressava para Niterói na noite de 13 de Setembro de 1964, que saiu da capital paulista às 21:00 horas, Rosa relatou sua malfadada história a uma jovem alma elegante sentada na poltrona a seu lado que também voltava de São Paulo para Niterói e que logo lhe despertou a mais sincera simpatia, jovem esta que viria a narrar suas peripécias algumas décadas depois em uma obra literária a que deu o título de “Cabine Individual”. A semelhança entre os nomes das duas jovens nos fazem pensar em como são significativas as coincidências que a vida nos proporciona. Anos mais tarde Hélio encontraria a jovem alma elegante e usando toda perversidade de sua alma desqualificou a narrativa de Rosa, insinuando que a mesma teria inventado toda história, realizando uma espécie de versão metafísica do que outros já teriam feito materialmente, a saber, a multiplicação dos dias: os trinta dias da história de Rosa não teriam passado de um único dia, todo o resto sendo fruto da fantasiosa imaginação da jovem.

Conheci Hélio pessoalmente muitos anos depois, em Campos de Jordão. Ele veio de São Paulo para esta cidade havia cerca de 20 anos. Abriu um restaurante gourmet e recebia os clientes de forma muito gentil (não é pra menos, foi o restaurante mais caro que já fui na minha vida!). Disposto a tirar a limpo as coincidências que detectei lendo a revista "Encantos e Sabores" da região, pedi um vinho e atraímos, eu e Karina, o proprietário para uma conversa investigativa. Ele acabou contando muitas histórias, entre as quais pude identificar a contada em Cabine Individual. Ele me contou a versão dele da história e achei tão horrível que é melhor contar bem rápido para você, estranho leitor que me acompanha até aqui:

Sobre seu primeiro divórcio ele disse que se tratou de uma injunção da vida necessária a todos os homens, porque chega um momento em nossa vida que a gente tem que trocar de mulher, porque a parceira que serve para uma fase da vida não serve para outras. A menos que a gente não queira aprender nada ao longo da vida. Usando de um vocabulário muito inapropriado, passou a ilustrar alguns casos, com frases clichés do tipo “não vejo problema em comer uns aperitivos na rua desde que se jante em casa”. Lembrei-me imediatamente de uma passagem de “Cabine Individual”, em que ao ser indagado por Rosa dos motivos que levavam um homem casado a procurar outras mulheres fora de casa, Hélio teria respondido  desembaraçadamente:

“Para um homem, a boa esposa é como a água, necessária à vida, que não pode ser dispensada. No entanto, nada impede que, além disso, tendo a oportunidade de tomar um bom vinho ou uma marca de guaraná, ele queira provar esses outros sabores.”

Provavelmente o leitor também conhece mais alguém que veio do mesmo planeta que Hélio. No entanto, há controvérsias se Hélio era de fato o que Rosa pensou a seu respeito. Ele pode ter sido condenado injustamente por uma brincadeira que não avaliou chegasse a tais  consequências. Para Hélio, o mais importante no amor é que ele fosse submetido a provas que resistissem aos obstáculos circunstanciais. Tendo isso em mente, ele testou o amor de Rosa por ele antes de dar o passo decisivo que uniriam suas vidas. Helio, de fato, pelo que descobri em nossa conversa, origina-se do planeta Pleiggraum, famoso porque seus nativos são considerados brincalhões e parecem não saber os limites entre o que é verdadeiro e o que é sério na vida. Como um último teste para saber se Rosa o amava realmente, colocou um bilhetinho em seu paletó simulando um encontro amoroso com Cleusa, que teria sido desmarcado na última hora, e deixou o paletó em casa naquele dia ao sair para trabalhar. Hélio sabia que Rosa iria mexer no bolso de seu paletó, e ao ver o bilhetinho, colocaria em cheque a autenticidade do seu amor. Na noite anterior, ele tinha preparado tudo, inicialmente dizendo que chegaria tarde do trabalho e mudando de planos na última hora, como se tivesse levado um bolo da suposta amante e voltado mais cedo para casa. Quando chegou em casa naquela noite, constatou que Rosa não tinha passado no último teste do amor. Ela tinha lhe abandonado e em cima da mesa da sala estava o bilhetinho que tinha usado como umbral para a aceitação final do verdadeiro amor.

Quando Hélio abriu a porta do apartamento aquele dia, após um dia estafante de trabalho, achava que enfim seus temores tinham se desfeitos. Rosa era digna de seu amor e merecia toda a sua confiança, ao contrário de sua mulher anterior, a Marilza. Ao abrir a porta, ouviu o som da chave sendo arrastada pela porta. Achou aquilo estranho, era um mau presságio. Avistou ainda de longe, sobre a mesinha central da sala um bilhete. Pensou o pior, que seria um bilhete de Rosa dizendo que teria … não... era o bilhete de Cleusa, que ele tinha inventado, sobre a mesa, aberto, bem visível.

Vamos nos construindo ao longo de nossa vida, contando com os seres que podem nos ajudar nessa tarefa. A principal função do casamento deveria ser a de proporcionar o crescimento pessoal dos nubentes. Se não se fizessem tais prognósticos entre os seres, a união matrimonial deveria ser descartada, e apenas satisfações passageiras deveriam ser buscadas, assim pensava Hélio. Sua busca se revelou infrutífera ao longo dos anos até que ele encontrou seu parceiro prometido pelos céus, e que veio a ser alguém do mesmo sexo. Hélio se tornou homossexual a partir de certa altura de sua vida, e finalmente foi feliz.

Encontrei também Rosa, muitos anos mais tarde, e ela me confessou que ainda amava Hélio, embora não acreditasse que ele jamais tivesse amado alguém. “Ainda hoje correria a seus pés, se soubesse que ele me ama e não tivesse aderido à preferência por homens, como você afirma. Nós, mulheres, estamos sempre nos culpando, pela falta de diálogo, e cobrando dos homens, em momentos que eles não sabem nada”, foi a última coisa que me disse e que na hora pensei ter entendido.

Conto 1 - Almas Elegantes


Comunicado  Final - Estado Máximo de Alerta

12-09-2012 09:29

Objeto celeste identificado como Eugenia encontra-se a 145.165 km da Terra. Impacto direto com o planeta é esperado ocorrer em 15 de Setembro de 2012.

São os equívocos cometidos ao perseguir nossos objetivos que nos conduzem à realização dos anseios mais profundos e autênticos. O que parece muitas vezes tolices humanas é  reflexo do que emana das estrelas, de compulsões celestes. Porém, não são os astros no céu que nos governam, mas nós mesmos que viemos um dia das estrelas e que revelamos nosso destino aos que souberem decifrar o sinal que está visível na face de cada um.

Etevaldo era um jovem oficial do sistema de vigilância espacial das Nações Unidas, dividido entre dois mundos, e nada em sua fisionomia indicava o drama interior que afligia sua vida. Se por um lado sua prática profissional exigia uma disciplina metódica e empírica, com inquestionável capacidade de raciocínio lógico, por outro lado, tinha uma percepção quase metafísica de que a aparência das pessoas revela muito mais que a ordem local de proliferação humana no planeta Terra, além da genética e dos costumes. Pressupondo que os indivíduos são forjados em matrizes extraplanetárias, acreditava que quando encontramos duas pessoas parecidas na Terra, elas, ou seus antecedentes, provavelmente teriam vindo de um mesmo planeta. “A gente sabe quando elas têm uma origem comum quando vemos uma e nos lembramos prontamente da outra”, costumava dizer aos amigos. “Vieram do mesmo planeta”, era seu bordão preferido quando se referia à semelhança entre duas pessoas, sem suspeitar da igual possibilidade de verossimilhança interna das pessoas, ainda que as admitisse tanto no plano físico como espiritual. “Podemos encontrar seres de diversos planetas andando pela rua, cada qual com seu tempo característico, às vezes a mesma pessoa em tempo diferente de sua existência, ou personagens de sonhos próprios e alheios”. Acreditava que quando as pessoas são diferentes, mas existe afinidade entre elas, significa que elas viriam do mesmo sistema estelar, explicando porque se estabelece facilmente entre elas uma certa cumplicidade, simpatia instantânea. Se sentimos atração física por alguém, isso significa que originamos de uma mesma estrela, embora não necessariamente de um mesmo planeta. Quanto maior o número de estrelas de um sistema, maior a diversidade de atrações de seus nativos. No caso dos habitantes do sistema solar, por exemplo, acreditava que se vive numa espécie de ambiguidade existencial, pela invisibilidade da presuntiva estrela que formaria um par com o Sol, o que parece uma vulnerabilidade da tese de Etevaldo ao condicionar a caracterização dos seres ao conhecimento que se tem da sua situação de fato. Etevaldo saía do impasse afirmando que a natureza do universo é dual, e que muitos fenômenos físicos, principalmente na esfera do humano, só se realizam quando são compreendidos. E assim prosseguia o pseudocientista teorizando que os seres provenientes de sistemas duplos, ternários, etc., geralmente têm muita dificuldade de se aterem a relacionamentos amorosos com apenas um parceiro, havendo uma propensão a se relacionarem com tantas pessoas quantas forem as estrelas de seu sistema de origem. Muita tolice que não valeria a pena ser contada se algo de espantoso não tivesse  ocorrido naqueles dias finais, o que passo a contar como forma de compensar o descrédito de que eram alvo suas ideias.

Karina, nativa do planeta Gliese 51, onde habitantes eram fabricados  aos pares com destinos pré-estabelecidos, sonha que sua alma gêmea existe em outro planeta, NGS 549672, e vai em busca de seu sonho para mudar um destino que lhe parecia, a princípio, irrevogável. Engajada numa operação de resgate do ser desejado, Arturo, em um planeta distante do seu, encontra resistência por parte dele para segui-la, mas rapta-o e foge para Terra.  Entre experimentos sensoriais e entreveros intelectuais ao longo da viagem interplanetária, nada mais resta entre eles ao desembarcarem na Terra. Cada qual tomou seu rumo e quis o destino que ambos viessem morar em Niterói, uma zona franca repleta de alienígenas vizinha à cidade maravilhosa.

Enquanto isso, na Terra, Rosa decide, enfim, concretizar a viagem de seus sonhos para esquecer uma antiga frustração amorosa que teve em viagem de trem a São Paulo. O destino cuida dos elementos da trama e leva Rosa à Itália onde, ao testemunhar um crime de rua, ela se depara com estranhas coincidências. De volta a sua cidade natal, Rosa encontra Arturo, alguém muito parecido com o assassino italiano. A semelhança exerce uma mórbida atração sobre Rosa, e desencadeia mudanças inesperadas em sua vida. Ao se envolver amorosamente com o misterioso personagem, Rosa acaba presa por agentes espaciais numa batida policial, e enviada equivocadamente para Gliese 51. Em vão debateu-se Rosa para provar que não era quem as autoridades pensavam que fosse. Todos os testes de identificação comprovavam que ela era uma alienígena ilegal no planeta e deveria ser extraditada.

Abandonada por Arturo ao chegar na Terra, Karina passou por muitos lugares: San Diego, El Paso, México, Quintana Roo, Maracaibo, São Luís, Salvador e, enfim... Niterói. Fez amigos por todos os lugares por onde passou enquanto mantinha em segredo sua verdadeira identidade alienígena. Viveu discretamente e ninguém suspeitou de nada. Todos a tinham por amiga, ninguém se importou em perguntar de onde ela viera. Assim foi vivendo sua vida até encontrar o que pensou, a princípio, ser Arturo. Mas não era. Seu encontro com Etevaldo a faz questionar sua história pessoal, seu sonho lhe vem a mente, seu engano original, e enfim compreende e se apaixona com a mesma intensidade da paixão que a fez cruzar 20 anos luzes do espaço sideral. Mas o destino lhe cobrou um preço elevado demais para realizar seus sonhos mais queridos.

Originando da Cabeleira de Berenice se avistava um pequeno foco do que parecia ser fragmentos de uma estrela que foi aos poucos se expandindo, em dezenas, centenas deles, como um radiante de estrelas cadentes de observação tão usual para Etevaldo. Foi amor à primeira vista. Não há muito o que dizer quando almas gêmeas se encontram. A quantidade de estrelas cadentes foi aumentando de uma forma inédita, e em pouco tempo o firmamento desabou sobre os dois.

domingo, 8 de julho de 2012

Cap II - Viagem à Itália


Pietra ergueu os olhos para o céu estrelado. Como era belo o mundo! Que sentimento imenso era viver! Um dia ainda viverei além do que sequer posso imaginar, em algum mundo desconhecido neste espaço infinito, repetiu para si mesma. Num gesto instintivo, buscou a estrela brilhante que admirou outro dia. Alguém lhe disse se tratar de Sirius, que por alguma razão que já não se lembrava era considerada a estrela cão. Cão celeste! Mais à direita, aquelas estrelinhas ela conhecia, as três-marias, três brilhantes no cinturão de um caçador imortalizado no firmamento. Um objeto resplandeceu mais para norte, refletindo uma luz verde da aurora que resplandecia no céu àquela hora. Muito linda a aurora que irrompeu no céu setentrional, mas estava atrapalhando sua viagem dos sonhos, sonhos reais dessa feita.

A tempestade, que registrara um índice oito na escala de perturbações magnéticas que vai de zero a nove prendeu-a um dia a mais nos Estados Unidos, o que acabou valendo a pena pelo magnífico espetáculo oferecido pela aurora boreal. Havia a notícia de uma outra explosão solar se dirigindo em direção à Terra e isso poderia atrasá-la ainda mais. A tão sonhada viagem à Itália iniciada havia apenas dois dias era interrompida inesperadamente por eventos astronômicos, uma força maior, o que se há de fazer? A noite passada tinha sido de transtornos, com interrupção da energia elétrica na cidade, problemas no aquecimento do quarto do hotel. E agora tinha mais essa ameaça de um objeto escuro das profundezas do espaço que se dirigia em direção da Terra, com riscos reais de colisão. Que  calamitosa seria uma destruição cataclísmica do nosso planeta em consequência de uma colisão com um objeto saido das trevas do espaço profundo! Mas ora, isso não iria estragar seus planos, porque a viagem à Itália tinha finalmente começado, quer dizer, ela já tinha saído do Brasil mas ainda não tinha chegado a seu destino. Algo lhe dizia que poderia encontrar alguém especial nesta viagem. Então era isso, como ela não tinha pensado nisso antes, o asteróide, ela já podia vê-lo no céu, uma diminuta estrela, sim, era ela, um pouco alaranjada, ela via, era a estrela guia para algum acontecimento extraordinário em sua vida. “Ah, meu Deus, serei sempre assim”, se perguntou, “achando que o que mais quero está para acontecer a qualquer momento?” Esse otimismo teimoso já estava lhe cansando, mas não sabia viver de outra maneira, ela era assim. O asteróide, “uma estrela guia?”, era a benção que faria aquele estranho sair de seus sonhos, enfim o Sr. Certo entraria em cena. Ela não perdeu seu tempo cultivando com tanto carinho esse sentimento e se resguardando por toda a vida. “Mas não, deve ser bem ao contrário, pouco importa quem amamos nessa vida, tudo perece, tudo se desfaz, tudo se rompe, o que vale mesmo é a história que construimos, isso levamos para sempre. O objeto do amor, sim, devemos amar, mas é da história que ele proporciona que devemos cuidar com todo o zelo possível”. Seus pensamentos foram interrompidos pelo barulho de uma sirene. A falta de luz continua. Os sons das sirenes se aproximam. Alguma coisa está acontecendo, alguém está em apuros. Uma coluna de fumaça sobe a certa distância encobrindo o luar. Tempos sombrios são estes.
Há pessoas que simplesmente amam, não importa quem. Amam intransitivamente, e esperam que alguém se torne o objeto desse amor. Esperam que alguém caiba em seus sonhos. Pietra era assim e por isso permanecia solitária. Faltava alguém na sua história. Quando se olhava no espelho, dizia para si mesma, sem convicção, que “seria melhor amar incondicionalmente, até o desespero se for possível, porque é disso que se trata o verdadeiro amor, desinteressado, gratuito”. E parecia ouvir o espelho que retrucava “mas não podemos perder de vista aquilo que permanece que é a história de cada amor em particular. Melhor ficar só, Pietra! O objeto do amor perece, o que permanece é a história que se constrói mesmo quando o amor não é correspondido, quando não existe recíprocidade”.

Pietra lembrou daquele estranho sonho que a perseguia, recorrentemente, em que era uma exilada de um planeta que orbita um sistema estelar binário. No sonho havia duas estrelas amarelas como o Sol que mantinham o pequeno planeta iluminado a maior parte do tempo. A noite era curta nesse mundo conhecido apenas em sonhos. Era um mundo idealizado, só mesmo em sonhos, tudo muito certinho, padronizado. Todos inteligentes, aplicados no trabalho e focados em seus objetivos, ou seja, vivendo para aquilo que foram criados. Um porre!  Parecia o que a gente quando criança imagina que seria o céu. Seres perfeitos que se dedicavam integralmente à busca de um equilíbrio entre corpo, mente e natureza, embora ninguém fosse capaz de notar nenhum sinal de desequilibrio que justificasse tanto empenho. Assim como na Terra existem noite, dia, amanhecer e entardecer, em Tattoine, eis o nome do estranho astro dos sonhos de Pietra, ainda existiam diferenças entre os entardeceres e amanheceres que dependiam de que estrela se punha ou nascesse. Havia uma complexa composição de claridade e escuridão no calendário deste sistema estelar, resultado do nascer e por dos sóis distintos. Havia dias de dois sóis, dias com apenas um dos sóis que eram diferentes se o sol no céu fosse o maior ou menor deles, e a noite que resplandecia com milhares de estrelas diferentes daquelas que se podia ver aqui da Terra.  Muitos habitantes desse lugar dos sonhos alcançavam estágios de consciência bem evoluídos, que permitiam mover pequenos objetos ou por em prática dons telepáticos, algo parecido com o que Uri Geller andou fazendo no planeta Terra em algum momento do século passado. Foi em um sonho desses que Pietra encontrou Andros, que lhe pareceu alguém muito familiar, talvez por isso mesmo uma pessoa de carne e osso como ela, que vivesse aqui, bem perto, no seu próprio mundo.  Era perturbadora a sensação que persistia após acordar sempre que tinha esses sonhos, esse personagem cujo nome ficou sabendo sem saber como, ou por quê. Quem era esse estranho personagem e o que esse sonho poderia significar? Pietra era uma daquelas pessoas que sentiam na pele a iminência de um acontecimento avassalador: o fim do mundo? O bem amado que surgiria em seu caminho ao dobrar uma esquina? O que impregnava o seu ser era um sentimento que se assemelha ao da vinda do Messias para os judeus, ou da segunda vinda de Jesus para os evangélicos. O Messias viria para reinar sobre todos, enquanto seu amado viria para reinar em sua vida.

Uma estrela cadente riscou o céu em grande velocidade, enorme, através do firmamento de Vega da Lira, a noroeste, para além do grupo de estrelas da Trança de Berenice na direção da constelação de Leão. Pareceu-lhe ver também uma nave preta e vermelha que descia através da neblina das estrelas, desaparecendo rapidamente do campo de visão, provavelmente fruto de sua imaginação.

Na noite seguinte, um bólido alçava vôo do aeroporto J.F Kennedy rumo ao velho mundo, e lá ia nossa heroína nas asas da United Airlines, rumo a sonhos há muito acalentados, de que algo diferente a fizesse encontrar coisas duradouras em sua vida, para que o desfilar das novas imagens que experimentaria nessa viagem mudassem sua relação com o mundo, eternamente igual até então. “Às vezes penso que já morri outras vezes e que nunca poderei morrer completamente. Que sentimento estranho era esse! E que hora mais inapropriada para ficar pensando nessas besteiras” - era o pensamento que lhe passava pela cabeça enquanto observava as nuvens no chão de um céu de estrelas.

Os primeiros dias em Roma foram inesquecíveis, mas agora as malas estavam todas prontas novamente. Pietra tomou o café da manhã e disse adeus ao Maison Vaticana. Foi-lhe difícil deixar a cidade. Agora entendia perfeitamente o que todos dizem a respeito de Roma: uma metrópole histórica! Ela não conseguiria ver tudo e apreciar tudo mesmo se ficasse um mês na cidade. Precisaria de meses. Após cinco dias intensos, teve que dizer adeus à bela cidade romana e deixá-la para trás.

Acordou muito cedo pois o trem para Nápoles partia as 6h45. Ao chegar na cidade napolitana, depois de deixar as malas no hotel, fazia um primeiro reconhecimento da cidade caminhando pelas ruas quando presenciou uma briga. Viu um homem segurando uma faca numa posição  de  golpe,  de  onde  podia-se  ver  o  sangue  gotejando.  Foi tudo muito rápido, ela não conseguiu discernir nada do que estava acontecendo.

- Tirem a faca da mão dele! - ouviu.

O homem saiu em disparada e passou por ela, quase se esbarraram, e ela pode ver num relance, com a força de algo que ela não conseguia definir, os olhos do assassino, que a fitou do vazio de sua alma, fazendo-lhe estremecer. Era o semblante de uma fera saciada. Passou desembaladamente por ela correndo até o final da rua e virou uma esquina na direção da Piazza Bellini.

- Puttana madona... la testa piú -  alguém gritou

- A vítima encontrava-se agonizante na calçada. Ligaram para os bombeiros, uma grande quantidade de gente foi se aproximando. Havia nervosismo e desespero nas vozes das pessoas. Algumas tentavam estancar o sangue do jovem rapaz mas com insucesso. Em menos de 15 minutos o belo jovem jazia morto e uma poça de sangue se formou sob seu corpo, escorrendo lentamente em direção ao meio-fio.

Juro que vou … desmaiar, foi a última coisa de que se lembra antes de acordar num lugar desconhecido e gelado.

O jornal do dia seguinte noticiava que o crime se tratava de uma vendetta amorosa, que a vítima tinha um relacionamento com a mulher do assassino, que o mesmo tinha “simples e efetivamente silenciado o ofensor”. A reportagem explorava os dois lados de um crime passional, sua barbaridade por ter sido um assassinato a sangue frio e a questão da honra do marido traído, mencionando em certo trecho que “vita promiscua non ha mai fatto nulla di buono a nessuno”. A tragédia porém não parava aí, porque o assassino infligiu, posteriormente, danos fatais à mulher por causa da traição, e também nela enterrou a faca, vingando-se do ultraje.

Pietra certamente sentia e não o negava, enquanto um estremecimento íntimo ameaçava o que ela pensava a respeito de si mesma, um certo tipo de admiração por um homem que tivesse brandido friamente uma faca, de aço frio, com coração, para limpar sua honra, mas temia-o igualmente, terrivelmente, tanto mais por ele se assemelhar com ..., era ele, o homem dos seus sonhos. Havia um pesadelo inscrutado na mente da jovem brasileira. Quando avistou aquela face tão familiar e tão estranha ao mesmo tempo, temeu que essa insistente e tímida esperança de que alguém a amasse tivesse lhe levando à loucura, ela agora misturando sonhos com realidade, na ânsia de que alguém, em algum recanto desse universo pensasse nela, infinitamente, em algum momento, em algum lugar. “Quem sou eu afinal, onde estou de verdade naquilo que posso reconhecer como sendo eu mesma? O que é sonho e o que é real nessa história toda?” Pietra ainda não sabia que era uma entre tantas outras pietras, neste e em outros mundos, e que começava a perceber os acontecimentos a seu redor a partir de várias realidades que ela desconhecia até então. Ela pensa que está enlouquecendo mas percebe cada vez mais nitidamente que não é possível acreditar na existência de uma realidade objetiva. Condicionamo-nos a acreditar que apenas uma história, que chamaríamos vencedora, é a que conta, que devemos consolidar. Pietra descobrirá que não devemos reduzir tão dramaticamente o que somos a essa história predominante.

O celular tocou. Era do Brasil.

- Bom dia! Gostaria de falar com a Sra. Pietra.

- Sim, é ela, boa tar..., desculpa, bom dia para você!

- Sra, obtive suas referências pelo Sr. Leonardo. Preciso do serviço de um ghost writer e ele me deu seu telefone. A Sra. está disponível para o serviço?

- Bem, estou viajando, na Itália, mas do que se trata especificamente o trabalho.

- Sra., o assunto não pode ser tratado por telefone. Espero a sra. voltar de viagem e ligo novamente se houver interesse. A sra. não reclamará dos honorários, esteja certa.

- OK, ligue-me novamente em três semanas.

- De acordo, sra. Bom proveito e boa viagem de retorno.

Que agradável e ao mesmo tempo estranho timbre de voz desse senhor! Esqueci de perguntar-lhe o nome. Do que se tratará? Bem isso pode esperar. Ainda tenho 17 dias de Itália, concluiu com um gesto de cabeça como se quisesse deixar aqueles devaneios de lado pois sua próxima atração era Pompéia.

Chegou na estação central de Nápoles e procurou a estação Circumvesuviana. Dirigiu-se à bilheteria e comprou um bilhete para o trem com direção à Sorrento, descendo em seguida para a estação. A viagem foi bem cansativa. O trem era muito velho e as pessoas extremamente mal educadas. Era um empurra-empurra, passando na sua frente, pisando no seu pé, um caos.  Não valia à pena olhar a paisagem pela janela, pois só o que se via eram lugares sujos, mal cuidados e com várias pilhas de lixo. Desçeu na estação Pompei Scavi - Villa dei Misteri.

Deixou as malas na mini estação e foi em direção à bilheteria das escavações. Na bilheteria, começou uma grande confusão quando um casal de americanos entrou na frente de todo mundo para comprar os ingressos na maior cara de pau. Muitas pessoas começaram a reclamar e eles fingiram que não era com eles. A moça que vendia os bilhetes não quis atendê-los e os mandou para o final da fila. Enfim, Pietra entrou nas escavações e foi apreciando o que milhares de olhos testemunhavam todos os anos, os corpos petrificados de Pompéia, a famosa réplica do Fauno. O lugar fervilhava de turistas. Parou para encher sua garrafinha de água em um bebedouro local. Algumas vezes se sentia perdida, não sabia exatamente onde estava apesar de tantas placas e mapas espalhados por toda parte. Não conseguia tirar da cabeça a voz da pessoa desconhecida que tinha ligado para ela do Brasil. Que curioso que Leonardo tenha lhe indicado seu nome. Por que será? Meus Deus, o que estou fazendo aqui no meio de todas essas ruínas? E aquele rosto do assassino, parecia vê-lo em toda parte agora. Parecia-lhe tê-lo visto algumas vezes, no rosto de diferentes turistas. Não, não podia continuar aqui, tinha que partir. A imagem daquele homem a perseguia. Voltou correndo para a estação e comprou a passagem para Sorrento. Ao chegar, deixou as coisas no hotel e foi andar pela cidade, para esquecer Nápoles.  

    “Sorrento é linda!” Sentiu fome e entrou em um restaurante muito bonito e charmoso. Pediu uma salada, uma soda e um frango ensopado. Ao fundo, sobre o Mediterrâneo, uma vista magnifíca do Vesúvio que lhe fazia dividir a atenção com a deliciosa torta caprese que pediu de sobremesa. Depois de passar por tanta ruína, chegar num lugar como Sorrento estava sendo muito bom, até que ela ouviu o grito “Tirem a faca da mão dele!”

    E aconteceu de novo, a mesma cena, o crime, o olhar de fera saciada. O destino estava querendo dizer alguma coisa a Pietra.

sábado, 7 de julho de 2012

Cap III - O Rapto


A alienígena usava um roupão inteiriço vermelho, com uma fila dupla de botões dourados percorrendo a parte da frente de cima a baixo, como se fosse um fardão.

- Sabe bem, Hadros, que não sou desse mundo. Sou do planeta Tatooine com o qual você sonhou. Recebi o seu chamado e vim te buscar. Nasci lá, como um castigo que me foi imposto pelos senhores supremos do universo que quiseram me separar de você. Todos esses anos fiquei atenta esperando o teu chamado, querendo te localizar, me preparando de todas as formas possíveis para saber identificar o teu sinal. Até que recebo uma visita projeciológica sua. Vamos, minha nave nos espera lá fora. Vim lhe buscar para ser meu companheiro numa viagem que faremos para construir o lar que está reservado para nós no planeta distante que estava no teu sonho. Tenho plano pra nós longe daqui, em algum lugar bem distante deste mundo em que vives hoje sem um futuro digno para você.

Antes de continuar, interrompo momentaneamente o interlóquio para caracterizar os personagens envolvidos nessa cena. Susy protagonizou acontecimentos insólitos que se sucederam desde que ela descobriu que havia algo de errado no modelo padrão de funcionamento comportamental dos habitantes de seu planeta natal, por tê-la separado do que ela acreditava ser seu parceiro ideal, colocando-os em dois mundo distintos e distantes cerca de 10 anos-luzes um do outro. Seu suposto amado nasceu em um planeta semelhante à Terra que orbita um sol diminuto na constelação de Carina chamado por vocês terráqueos de NGS 549672, ascensão reta de 13 h e declinação de -60º, enquanto Susy vem da super Terra. Na verdade, de uma lua que orbita este planeta na estrela Gliese, que fica na constelação de Libra a 20,5 anos-luzes da Terra, com ascensão reta de 15,3 h e declinação de -7,7º. Não perca tempo procurando essa estrelinha a olho nu no firmamento, você que me lê. Sua magnitude aparente é maior que 10, o que significa invisível para olhos humanos sem algum aparato ótico auxiliar. Nenhuma correlação, no entanto, com o fato de  que o que os gliesianos mais gostam é se passarem desapercebidos dos grandes holofotes dos centros sociais galáticos, características que eles preservam mesmo depois de irem para um planeta tão fashion como  a Terra. Bem, esses eram os CEPs cósmicos desses personagens quando nasceram. Continuemos, então, de onde interrompemos:

- Fecha essa boca, mulher, que tu tem jeito mesmo de pessoa mandada dos encantamentos. Quem te mandou vir aqui?

- Acabei de te dizer, captei as ondas do sonho que você teve. Estamos marcados para ter uma vida comum no planeta azul de uma estrela amarelada. .

- Os dois sóis de Tatooine devem ter te feito mal, moura sideral. Não me lembro de sonho algum. Não tenho razão alguma para deixar meu planeta. Vivo no planeta com melhor qualidade de vida da galáxia, onde cada um contribui de acordo com sua capacidade e obtem de acordo com sua necessidade,  merecendo o que está de acordo com seus atos. Por que iria eu querer sair daqui rumo a civilizações mais atrasadas?

Uma pequena pausa para explicar melhor esse love story cósmico porque sei que parece um pouco inverossímel. Assim que descobriu sua cara metade, Suzy começou os preparativos para fugir de seu planeta, o que deveria ser feito com o maior cuidado possível, com sigilo absoluto, sem despertar suspeitas na rigorosa vigilância que todos gliesianos se submetem. Um trabalho forçosamente lento, que exige toda a calma do mundo, esperando o momento certo e curto, a pequena janela de fuga que surgisse, para sair em busca de seus sonhos. Desde que captou a suposta projeção de Hadros, passou a tramar incessantemente como resolveria o problema porque já não podia mais viver sem seu amado.

- Apresse, não temos muito tempo a perder. Estou sendo perseguida pela polícia intra-galática.

- Afinal, você diz que sonhei com o seu planeta circumbinário ou com esse planeta remoto que seria nosso hipotético destino? - retrucou Hadros tentando ganhar tempo e bolar alguma forma de fugir daquela doida.

- Não tenho mais tempo a perder, querido. Recebi uma mensagem vindo de você, e era muito forte, algo que me fez vir até aqui para te incitar a ir além de você mesmo, a buscar oportunidades de se conectar com alguém que pode te dar um futuro, está escrito. Porque nesse planeta tu vives uma vida infrutífera. Teu chamado me alcançou lá fora, longe, no meu planeta. Você tem potencial, pode ser tornar um canal para que coisas importantes aconteçam.

- Fala sério, não estou entendendo nada. Quem é você afinal?


Suzy perdeu a paciência, sacou de sua pistola e disparou um raio paralisante sobre Hadros, gerando um campo de forças em torno dele que congelou-o aparentemente, mas cujo efeito de fato era fazer o tempo fluir mil vezes mais lentamente que o normal.  Ela não podia ter se enganado. As ondas morfológicas que recebeu em sonhos naquela noite que o erro do sistema padrão se revelou eram muito claras. Hadros era, sem dúvida, sua alma gêmea há tanto tempo buscada. Não, ela não se enganara, o equívoco não era seu. Foram os senhores supremos do universo que forjaram um erro em seu destino, naquilo que já estava predeterminado desde sempre, por mais que muitos no seu planeta insistissem que ela não batia muito bem da bola, que seu plano era mirabolante, uma aberração, um plano aventureiro.   É bem verdade que é difícil sustentar essa teoria de que dois seres feitos um para o outro tivessem nascido em planetas diferentes.

Já a bordo de sua nave, a caminho do novo mundo, através do onipresente éter luminífero diatérmano que preenche o espaço sideral, Hadros foi para a cozinha e preparou um arroz com petit-pois. A nave de Suzy era diferente de  tudo que Hadros já tinha utilizado em viagens espaciais. Havia uma espécie de jardim de inverno com plantas caindo do teto que davam a sensação de estar no meio de uma mata. Hadros deitou-se em uma rede que se estendia entre dois batentes em uma extremidade do jardim e começou a se balançar lentamente, pensando no que estava acontecendo, como fazia sempre após o jantar. Ouviu a voz de Suzy chegando e ao mesmo tempo um perfume muito agradável invadiu o recinto. Já que estava nessa e não tinha jeito mesmo, pensou que podia se divertir um pouco porque ninguém é de ferro. Suzy não era seu tipo, mas agora não tinha escolha. Tinha a pele cor de chocolate, ela prefere dizer de canela, como autêntica nativa de um sistema planetário circumbinário. Ela se aproximou e foi se encostando de maneira sensual. Procurou um espaço na rede e deitou-se com ele. Ficaram deitados, conhecendo-se mutuamente, quando o desejo veio como ondas de dois pontos distintos que se somam. Seu perfume era arrebatador. Respirava fundo, cada vez mais fundo, inebriando-se com o doce cheiro que emanava do corpo de Suzy. A mão dele deslizou por baixo de seu vestido e sua calcinha estava enxarcada. O amor explodiu com toda intensidade que os corpos permitem. Ela fez um movimento inesperado e brusco, atirando-o ao chão. Ficaram alí, beijando-se, mordendo-se e se apertando fortemente, o corpo de um contra o outro, com desejo intenso e ardente. Em certo momento, ela se virou por cima de Hadros, apoiou suas mãos no seu ombro e o prendeu, ofegante. A gadanha de Hadros latejava sob o sésamo descascado e pulsante de Suzy, que pingava um líquido denso e aromático. Hadros começou a sentir um líquido quente se despejando sobre seu pênis. Ela mijava sobre ele.

“Estou feliz e gozando de plena saúde. Você é meu.”



Nada a estranhar considerando que nossas personagens não são seres humanos, nem seres de sua igualha. Depois desse incidente sem maiores desdobramentos, pois para Hadros nada significou, os dois pombinhos prosseguiram em sua jornada rumo ao planeta selvagem. Passaram por uma nave de condenados. Ela vagaria para sempre, autocompelida, ao extremo de sua órbita, além das estrelas fixas e sóis variados e planetas zumbis, seres espaciais perdidos e a terras sem donos, para a fronteira extrema do espaço, passando de terra em terra, entre povos, entre eventos. Atendia imperceptivelmente a forças desconhecidas que a atraíam sabe-se lá até onde. Movia-se segundo leis de uma equação insatisfatória, entre um êxodo e retorno no tempo através do espaço reversível e de um êxodo e retorno no espaço através do tempo irreversível.

Entre os planetas por onde eles passaram existia um de nome  estranho, intraduzível, לירושלים של מעלה, onde os habitantes eram experimentos de um senhor muito poderoso. Ele criou seus habitantes simples e ignorantes, para que, por si mesmos, fossem aprendendo, evoluindo, se aperfeiçoando, vivendo, morrendo, tornando a nascer, até que um dia pudessem atingir a perfeição relativa, ao invés de criá-los perfeito de primeira; perfeição total só existia no senhor criador. Havia uma promessa feita aos habitantes do planeta de que viveriam num estado de permanente felicidade no mundo espiritual se cumprissem todas as etapas evolutivas, o que era alcançável se se mantivessem sempre ativos para fazer o bem, ajudando os que ainda estavam engatinhando no caminho da evolução. O Criador os criou ignorantes, perfectíveis e com livre-arbítrio, para que só eles fôssem responsáveis pelas suas vidas e pelos seus atos. Pela lei de ação e reação, que existia nesse planeta, ou lei do retorno, como também era conhecida, sofreriam hoje para quitar ações faltosas do passado, de presumíveis vidas passadas. Só assim quitariam suas dívidas e evoluiriam ao longo das vidas futuras até que não precisassem mais reencarnar pois já teriam atingido aquela perfeição relativa. Dessa forma, não precisariam mais viver mais nesse astro de provas e expiações, indo para não sei onde, não procurei saber todos os detalhes. Dizem que nesse novo astro tem um clube de leitura que acede a bibliotecas com todos os livros que quiserem ler, com promessas de gozarem uma eternidade para ler tudo que quiserem, dentre outras coisas a fazer e desfrutar. Pas mal!

Antes de entrar nos domínios do sistema solar, a nave soaktha cruzou por um planeta zumbi conhecido em toda galáxia, porque ele era um campo de trabalho forçado. Havia uma família real no planeta, soldados, mas 90% da população era de escravos gerados em laboratórios de outros planetas que utilizavam de seus serviços. Tais escravos mediam quase que invariavelmente cerca de 60 cm, com peso de cerca de 25 Kg. Os soldados, também fabricados em laboratórios, mediam cerca de 2 m de altura e peso de cerca de 100 Kg. Este era um planeta muito hostil, cuja carga eletromagnética afetava naves passantes a milhares de quilômetros de sua superfície. Procuraram se afastar de sua rota o mais que puderam, desviando para esquerda em relação à via-láctea que cortava o céu à frente deles, dividindo-o em dois. Fizeram uma nova manobra em direção à Ursa Maior e seguiram em frente, sendo possível avistar pela tela principal da nave uma pequenina estrela amarela perdida na escuridão, o objetivo final.

“Bem, já que não tem como voltar atrás, cá estou rumo a esse lugar indesejado, repleto de seres inferiores e hostis”, pensava consigo Hadros. “Devo encarar isso como uma aventura passageira se possível. Assim que lá chegar, avisarei às autoridades que não pretendo permanecer. Aproveito para ver com meus próprios olhos o que jamais imaginei sequer em sonhos. Estive em Alpha Centauro, Sirius e Aldebarã. Fui perseguido por piratas espaciais. Vi muitos planetas zumbis. Estive em Capella e Arturus, atravessei nuvens de poeira interestelar sob o comando do capitão Sheran, o homem mais danado de bom cujas naves que comanda zelam pela segurança de muitos planetas. Nada se compara, no entanto, ao único acontecimento onde tive contato com alguém oriundo do planeta Terra. Foi em Antares que ouvi tais histórias, de uma festa beneficente promovido por um clube de almas penadas, onde ofereciam um jantar de fantasmas seguido de um baile de espectros. Era uma festa temática. Pois bem me lembro que foi nesse local que encontrei o único terráqueo que conheci até hoje. Era um jovem alto e loiro. Usava uma roupa de astronauta com uma insígnia no peito, símbolo da Frota Intergaláctica. Um sujeito muito estranho que falava sobre acessos extrafísicos a outras dimensões.  Tinha um manuscrito nas mãos de cerca de umas cem páginas e dizia coisas ininteligíveis, de que era possível acessar dimensões paralelas ao mundo físico e tais dimensões ocupavam, elas mesmas,  um local físico algures no universo, que o contato com esses seres era possível se atravessamos estranhos túneis parecidos a buracos de minhocas. Humpf! Serei indulgente com esses seres. Talvez até pratique alguma boa ação com esses pobres infelizes. Já ouvi dizer que sua Ciência sofre de uma profunda descoerência lógica, fruto de abordarem a natureza de forma equivocada. Ora, isso talvez não seja de todo mau.”

Enquanto isso, Suzy ressonava na rede. O que ela não sabia é que errou de endereço ao chegar em NGS 549672. Logo ao lado de onde raptou Hadros, alguém a esperava havia quatorze anos, de nome parecido, Andros.

Viajar de um planeta para outro obriga que um dos 2 viajantes viaje pelo espaço sideral a velocidades próxima à da luz, o que faz com que o tempo passe mais rápido para um do que para outro. No dia do presumido resgate, Susy era 14 anos mais jovem do que Andros porque foi ela a se submeter ao fenômeno da dilatação temporal, conhecido pelos terráqueos como o paradoxo dos gêmeos da relatividade restrita, pois foi ela que empreendeu a viagem numa velocidade próxima da luz para pegá-lo em NGS 549672. Pelo menos isso era o esperado. Sua viagem durou 14 anos terrestres para Andros enquanto que para ela tinha decorrido apenas 48 dias. Nesse intervalo de tempo, enquanto envelhecia, Andros dedicou-se a leituras e aos preparativos para receber sua noiva cósmica, deixando tudo pronto para fugir imediatamente antes que os demais conterrâneos dessem conta do que aconteceria. Eram inicialmente da mesma idade, ele e Susy, ele conhecedor profundo dos costumes vigentes na Terra, sabia a importância de ser ela a se sacrificar com a viagem inicial vindo ao seu encontro, embora não fizesse muita diferença quem fizesse o primeiro trecho da viagem do ponto de vista do percurso total da viagem. A história que usou para convencer Susy de ser ela a iniciar a viagem lhe pareceu bastante satisfatória, de que por razões relacionadas ao espectro de radiação de estrelas do tipo solar, seres do sexo feminino se desenvolvem mais rapidamente do que os masculinos nesse planeta pitoresco para onde eles iriam construir o futuro, e que um atraso no passar do tempo para Suzy a favoreceria do ponto de vista da futura vida sexual na Terra.

A super Terra, planeta de origem de Susy, é conhecida intergalaticamente por terem os habitantes mais bem informados sobre assuntos pragmáticos de todo aglomerado de Virgem com sua mais de mil galáxias, entre as quais se insere a própria Via-Láctea. O único defeito de seus habitantes é o de serem reconhecidamente um pouco afobados.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Cap IV - A Ordem Cósmica



Etevaldo abriu o manuscrito que lhe foi dado por Deise e, ao folheá-lo, o conteúdo lhe pareceu bem familiar. O título já dava uma mostra do que tinha em suas mãos. A história não lhe era de todo desconhecida, mas até então era só suspeita, não podia imaginar que havia registros, evidências fundamentadas daquilo que era objeto de suas pesquisas de anos, quase sempre de fontes indiretas e de ouvir falar. Pelo que me relatou, o documento parecia conter novidades ainda não cogitadas por ele. Nossa conversa ocorreu numa noite tórrida de verão na praia de Itaipuaçu, numa reunião do clube da lua, e indaguei-lhe a respeito da origem do documento, o que ele me respondeu ter-lhe sido entregue por Deise, que o tinha redigido nas noites de fruição endorfínicas de um relacionamento sem compromisso com um escritor maldito de contos repugnantes chamado Surfista Prateado, que este, por sua vez, adquiriu-o no período em que serviu em uma suposta frota intergaláctica, como espólio dum tal capitão Sheran, abatido em combate contra as forças… desculpe-me, só me recordo do número da divisão: seis. Lembro-me ainda de que mencionou certo Alano, ou Evandro, também não estou certo. Desculpem-me, caro leitor, as falhas de minhas memórias octogenárias e o fato de que, ao contrário de Deise, não costumo registrar o que me acontece em nenhum logbook. Não obstante todas essas considerações, é possível que tudo se refira a fatos inexistentes de histórias que nunca ocorreram e, portanto, me eximo de qualquer responsabilidade quanto a sua veracidade.



Enquanto ouvia a história contada por Etevaldo e fazia minhas anotações, percebi que ele usava algumas palavras com sentido bem específico, que só vim a compreender mais tarde ao revisar minhas notas. Havia uma curiosa distinção entre os conceitos de humano, humanoide, pessoa e clone. Não sei se as referências que foram feitas ao longo da narrativa são sempre coerentes e acertadas, porque as anotei enquanto ouvia, sendo que muita coisa foi acrescentada posteriormente, o que posso ter incorrido em equívocos. Infelizmente não posso garantir fidelidade absoluta do que passarei a descrever, em relação à verdadeira história que deve estar registrada em algum manuscrito em algum lugar desta, ou de outra galáxia qualquer.  Reitero minhas desculpas com o leitor por isso, que minhas anotações, certamente, não retratam ipsis litteris o manuscrito mencionado.



No texto a seguir, em que tento reconstruir o relato de Etevaldo, a palavra humanoide se refere a todo ser que se assemelhe ou mesmo lembre um humano, não sendo possível garantir que o seja. Seres humanoides são, portanto, qualquer bípede de corpo ereto, que possui dois olhos, um nariz e uma boca na face dispostos com a mesma ordem da face que o leitor reconheça, provavelmente, como sendo humana, pelo menos em um primeiro contato.



No exercício de sua cidadania, indiferentemente de sua realidade profunda, os humanoides são às vezes designados como pessoas. Assim, em alguns contextos do manuscrito, segundo meu entendimento, humanoides são pessoas, independente de suas origens, idade, sexo, saúde física ou mental e de serem ou não dotados de consciência própria; são seres supostamente morais, isto é, seres dotados de aparentes consciência moral, autonomia moral e responsabilidade, portanto de sociabilidade. Mesmo que a maioria deles possa nos parecer bem imoral, inconsciente e irresponsável. Enquanto pessoas, eles são dotados de maneirismos que se manifestam por meio de anseios por um suposto ideal de plástica superior, etérea, imponderável, numa tentativa desesperada de disfarçar a grosseria de seus corpos sem graça e espontaneidade, quando não de seu espírito. Pessoalmente, eu discordo dessa definição, porque considero alguns humanoides até que bastante sedutores embora não sejam poucas as recomendações de que sejam verdadeiras hienas e que sabem dissimular muito bem.



Humanoides imigrantes de outro sistema solar são designados diretamente como sendo extraterrestres, ETs, para diferenciá-los dos humanoides terrestres, que podem ser clones, projetos humanos ou humanos decaídos. Podem também, às vezes, receber a designação genérica de cefalopóides. Há de se considerar que muitos alienígenas se vestem da pele humana para se passarem despercebidos e constroem identidades falsas para si. Deve-se considerar também que existem comunidades humanoides que estudam séria ou dissimuladamente os extraterrestres, em geral para aliciá-los nos seus planos de domínio do planeta, se dividindo em dois macros grupos segundo o propósito de cada um: os ufólogos e os exobiólogos.

Um humano, ser humano, pessoa, gente ou homem é um animal membro da espécie de primata bípede Hetero sapiens, que vulgarmente quer dizer “espada", pertencente ao gênero Hetero, família Heterinidae. Embora os membros dessa espécie tenham um cérebro altamente desenvolvido, com inúmeras capacidades como o raciocínio abstrato, a linguagem, a introspecção e a resolução de problemas, seu maior destaque é a grandeza do coração. Esta combinação de inteligência e emoção viabilizou a formação de seres altamente desenvolvidos com um destino reservado apenas aos deuses do universo.



Devemos anunciar, também, os seres artificiais que têm sido usados em larga escala para destruição da espécie humana: os clones. Eles podem ser fabricados biológica ou eletronicamente a partir de uma célula matriz. O processo de clonagem tem sido realizado de forma cada vez mais frequente por incertos invasores terrestres na sua lida para dominar o planeta. Humanos costumam ser sequestrados, sumindo do mapa por cerca de três dias, tempo que pode passar despercebido pelos familiares dos desaparecidos, e retornam com uma cópia idêntica ao desaparecido para substituí-los e infiltrá-los nas famílias dos humanos, que com uma boa desculpa de viagem a trabalho ou outra aventura qualquer, conseguem disfarçar a substituição. Seus amigos e familiares só se dão conta quando percebem que eles começam a agir de maneira suspeita de uma hora para outra.



Feita essa apresentação inicial no intuito de tornar mais claro o relato que ouvi de Etevaldo, foi mais ou menos o seguinte que guardo de memória. Volto a salientar, no entanto, que talvez não seja toda a história: disse o narrador:




Quem são os terráqueos?
(resumo de “O Manuscrito” dito conter mais de 100 páginas)



A Terra é um dos raros planetas do universo onde existe uma diversidade muito grande de pessoas, podendo mesmo dizer que as incontáveis civilizações dos universos existentes construíram o céu na Terra. Objetivamente falando, isso significa dizer que há representantes de incontáveis civilizações planetárias em Gaia, algumas apenas como embaixadores de seus planetas de origem, outras como espiões, para relatarem o que acontece no planeta, monitorarem seus dias finais, até o último momento, quando tudo voar pelos ares, ou para o espaço, se quisermos ser mais exatos. Foi essa miscigenação de seres de toda parte do universo que suscitou o novo gênero que denominamos humano, temidos por uns amados por outros e odiados pela maioria. Em outros planetas, em geral, os seres são bem parecidos entre si, não há tanta diversidade como no planeta azul, e existem tantos planetas habitados no céu quanto é a diversidade de pessoas na Terra. Esses seres que vieram para Gaia em diferentes momentos de êxodos cósmicos, causados por eventos catastróficos no universo, podem se reencontrar aqui de diversas maneiras por uma característica dos seres de reconhecerem familiaridades mesmo sem se conhecerem diretamente. Alguns poucos se humanizaram, mas a maioria permanece apenas humanoide, seja alheio aos destinos planetários ou com um genuíno desejo de destruição da espécie humana.  Embora os humanos difiram mais dos humanoides que estes dos animais irracionais, essencialmente falando, apenas olhares mais atento são capazes de discernir os humanos dos humanoides. Exteriormente, não é fácil distingui-los, não há critério seguro para isso. As vidas humanas decorrem na mesma íntima insciência que a vida dos humanoides em muitos aspectos. As mesmas leis profundas que regem de fora os instintos dos humanoides regem também, de fora, a inteligência dos humanos, que parece não ser mais que um instinto em formação, tão inconsciente como todo instinto, menos perfeito, no entanto porque ainda não plenamente realizado.  Para atender a necessidade de reconhecimento de uns e outros, existe um curso disponível na Internet e em algumas comunidades secretas. Se o leitor se interessar, acesse https://nao_confunda_humano_com_humanoide.com.dp. O servidor do site encontra-se em um domínio paralelo.

O ser humano é uma “joia cósmica rara” # que foi criado e vive sob a proteção do senhor supremo de nome impronunciável na fonologia humana. Há quem pense que o homem é uma experiência que não deu certo. Isso não é verdade. Ele é uma experiência que está sendo genética e socialmente melhorada, e chegará o dia em que alcançará um estado de plenitude capaz de controlar o universo integralmente. Isso é o que se comenta por toda parte, nas mais estranhas línguas ou formas de comunicação, que se trata de uma espécie que está a ponto de revolucionar o universo por saber compreendê-lo e dar sentido a toda sua história pela primeira vez, se não for destruída antes, o que tudo indica acontecerá. Essa afirmação de Etevaldo não me pareceu fazer muito sentido; transcrevi-a, no entanto, como a ouvi.  O diferencial existente no ser humano é que ele constrói conscientemente sistemas nos quais se inserem como se fossem espécies de células, viabilizam macro organismos que atuam em um nível superior de complexidade, e podem exercer grande poder de transformação. Uma fala deveras simbólica. Fazendo uma analogia, acho que quis dizer que os humanos são building blocks de estruturas maiores, como chips de um computador cósmico. Por saberem se organizar dessa forma como nenhum outro ser, despertou inveja e ódio por toda parte, e esta é uma das razões pela qual se suspeita que a destruição iminente que os ameaça não se trata apenas de uma fatalidade.



Talvez tudo não passe de uma espécie de teoria da conspiração, a de que o mito humano resulte de um fenômeno originado da percepção que alguns seres tiveram da existência de uma verdade absoluta fundadora de uma nova espécie superior. Tal ideia sempre aborrece profundamente aqueles que não admitem tal possibilidade, e provoca-os ao ponto de intentarem contra essa experiência. Alguns humanoides, uma minoria, admitem a experimentação de semelhantes novas realidades pessoais, vivencia um contínuo despertar para a compreensão da necessidade inelutável de uma verdade suprema, designam-na como condição necessária para a realização de uma vida honesta. Com isso, candidatam-se a galgarem ao domínio do gênero humano, a única espécie em todo o cosmo que goza da certeza profunda de que a vida tem sentido e se baseia em fazer o bem. Os humanoides, por outro lado, apresentam um modo de ser em que se percebe nitidamente que seus atos independem de sua vontade e de suas próprias decisões, o que os conduzem irremediavelmente para o lado negro da força.

A espécie humana superou diversas intempéries ao longo de sua evolução até chegar ao estágio atual. Diversas eras em que a superfície do planeta foi destruída por grandes enchentes, choques de meteoroides gigantes, vulcões, explosões solares, eras glaciais, etc., que devastaram várias civilizações até que cataclismos globais deram uma trégua ao planeta nas últimas centenas de milhares de anos. Em consequência, a maioria dos humanos remanescentes é originária da África oriental de um povo que lá vivia há cerca de duzentos mil anos. Atualmente, eles se distribuíram por toda a Terra e constituem cerca de 5% da população total do planeta, os 95% restantes sendo humanoides de diversas origens planetárias ou clones manufaturados nas profundezas do planeta. Alguns grupos humanos também podem ser encontrados em outros sistemas estelares, em viagens interplanetárias, ou prisioneiros nos submundos terrestres. Estima-se atualmente que existe cerca de 350 milhões de humanos legítimos no planeta.



Embora sejam sociais por natureza, as recentes ameaças de extinção da espécie têm tornado os humanos mais reservados. Os ataques chegam de todos os lados, da mídia escrita e falada, através dos sofisticados sistemas de comunicação existentes. Embora haja muita inimizade entre os humanoides cujo grau depende de suas procedências, eles costumam se unir em torno do propósito de destruição da espécie humana, considerada o inimigo maior. Eles costumam se organizar para trocar ideias e criarem complexas estruturas sociais, algumas cooperantes, outras concorrentes, visando restringir o desenvolvimento dos humanos, apesar de algumas divergências internas naturais.



A resistência humana a este ódio intrínseco dos humanoides se apoia na preservação de antigas  tradições,  rituais,  normas sociais e éticas,  leis e valores, que em conjunto tem formado a base da sociedade humana por séculos, sendo transmitidas de gerações em gerações. A cultura humana assim preservada é o principal baluarte contra as ameaças alienígenas, que fazem uso cada vez maior, inclusive, de uma literatura repugnante e da música funk para destruir sua resistência.



Certa vez, Etevaldo disse ter assistido a uma conferência em que um senhor de barba grisalha de sete dias e de unhas verdes discorria sobre o conhecimento da natureza dos seres, e ele perguntou-lhe: “E como é isso?”. O estranho senhor,  que posteriormente vim a saber se chamava Dr. Marciano, lhe disse:



“Sobre a superfície livre do planeta onde um dia se pensou criar o paraíso, ou em seu interior cavernoso, não existe um lugar, um recanto, uma ilha sequer, onde os humanos possam viver plenamente, livres da influência malévola dos humanoides, que por inveja e despeito, tramam o seu fim. O local parece um zoológico humanóidico, onde impera a esperteza, a malandragem e a baixeza, evidenciando um cenário sub-humano. Daqui de onde os observo, estando como fora dessa multidão policrômica que se agita movida por forças alienígenas e sinistras, percebo-me como um ente de outra estrutura, sem nada em comum com eles.”



O engraçado nos humanoides (digo "engraçado", mas quero dizer "trágico") é que, sobre os assuntos que realmente afetam sua vida, eles se omitem, dão de ombros, se alienam... mas sobre "os outros", o modo de vida "dos outros", especialmente dos humanos, aí adoram saber, opinar, se meter... fazem os mais estapafúrdios julgamentos com uma "sabedoria" impressionante... O ser humano é, pra mim, a maior incógnita do Universo. Ainda não sei se a espécie humana realmente se viabilizará neste planeta, especialmente face as ameaças iminentes que recaem sobre ela, com o mal prevalecendo sobre o bem.



“A geografia da consciência humana se espraia em diferentes dimensões do universo físico. O espírito humano é uma matéria real que se origina em espaços dessas diferentes dimensões. Trata-se de espaços reais como o espaço onde as coisas materiais se estendem. São diferentes dimensões ocultas desse espaço que nos é tão familiar. Em uma dimensão vive nosso corpo, em outra nossa alma. E há outras dimensões onde experimentamos outras realidades. Realizamos nesse complexo organismo orgânico a convergência de diversas dimensões físicas e extrafísicas.”



Assim é que, segundo o senhor de unhas verdes, em um distante planeta de um remoto sistema solar nos confins da Via-Láctea, ou seja, na Terra, proliferou esse povo que fez uma opção pela paz e o bem. O povo que goza de uma profunda convicção da existência de um soberano bem que domina sua alma, bem este gerador de uma nova espécie a que chamam tão simplesmente humanos.



Não estava entendendo nada. Pela Virgem de Fátima que previu três dias de completa escuridão quando o planeta atravessasse o cinturão fotônico nos fins da era de peixes, que estava achando tudo muito chato, mas continuei a fazer minhas anotações porque tem muita gente que gosta dessa baboseira e meu plano era ser futuramente um escritor, precisava desse tipo de referências. O senhor de barba branca de sete dias, o Dr. Marciano, prosseguiu discorrendo sobre essas inutilidades práticas e eu continuei acompanhando sua fala, cada vez mais repetitiva e enfadonha. Escrevia mais por falta do que fazer do que propriamente interesse no assunto. Apesar de dizer tantas coisas sem sentido, havia algo nele que cativava as pessoas a seu redor. O que será isso nas pessoas, à exceção dos humanos, que as fazem dedicarem horas de suas vidas ouvindo um idiota falar invencionices como se fossem verdades essenciais para sua existência? Ah, essa paixão humanoide pelas narrativas que lhes sedam as almas!



“Os humanos são, muito provavelmente,” continuou o barbudo doutor, “nativos desse planeta azul, mamíferos inequivocamente associados a esse rincão da Via-Láctea. Eles são raros em qualquer outra parte do universo. Algo aconteceu há cerca de cinco mil anos atrás nesse planeta, uma conjunção de fatores favoráveis, inexplicáveis a maioria deles, quase um milagre, alguns dizem, que fez surgir inesperadamente um ser capaz de falar por intermédio de metáforas e expressar-se artisticamente de forma singular.” Não sei explicar por que ele mencionou estas qualidades quando existem tantas outras mais essenciais. “Eles construíram pirâmides, catedrais, máquinas e lançaram-se no espaço para uma conquista que se insinua irreversível. Repare, prezado leitor, que os humanos acreditam no futuro como nenhuma outra espécie. Suas referências existenciais são sempre buscadas no futuro. Eles se formaram à imagem e semelhança do universo, ao contrário dos demais seres que são verdadeiros abortos da natureza.  Isso não é unanimidade, obviamente. Os humanoides contestam violentamente a hipótese de que a natureza humana difira substancialmente da deles, e que de maneira alguma haja algo de melhor nela. Alegam que, se for verdade essa correlação imagem-semelhança, a alma humana deve ser hostil como de resto todo o universo.”



Os seres humanos sabem como ninguém enfrentar as adversidades da vida, e superá-las, prosseguindo na construção de um mundo cada vez melhor que os tornarão em um futuro não muito distante, na civilização mais poderosa e adorada de todo o universo. Entre seus atributos encontram-se o de compreender quando a vida lhes golpeia, tirando disso uma lição de vida, aceitando as mudanças da sorte. Eles conseguem ser humildes quando querem, e sabem receber sofrimentos com amor. Depois do fato ocorrido, eles sempre se adaptam e acabam concluindo que foi bom o que lhes sucedeu; o que é uma característica deveras irritante para as outras espécies, a dos humanoides, que se irritam profundamente com esse complexo de superação humana. Eles sabem que são tidos como ameaças à sociedade humana e que só pensam em dificultar seu progresso. Sabem que os humanos os consideram feito grous que adotam sua forma com o intuito de roubar-lhes a alma. Que pensam ser bem diferentes do que consideram seres inferiores, por acharem-se detentores de uma insólita capacidade de saber equilibrar o que é natural em si com a artificialidade de suas convenções sociais. E o que é aquilo de ficarem questionando o que fizeram ou deixaram de fazer? De ruminarem o que fizeram, e o que poderiam ter feito, de não deixar o passado no passado e de jamais esquecerem? O que ganham em manter presente o passado? Os humanoides, em geral só se arrependem do que não fizeram.  



O pensamento humano é de uma complexidade singular. Suas mentes privilegiadas funcionam com base em sinapses, que se propagam nervosamente buscando um consenso. Quando este é alcançado, um sibilante sinal sonoro em forma de “Yeeeeeeeeeeeeeeeah!”, é disparado a menos de zero decibel em frequência de 100khz, só ouvida por golfinhos, indicando que da mente fértil brotou uma ideia.



Alguns cientistas categorizaram o humano como sendo uma propriedade emergente da natureza, que é um fenômeno que surge quando um sistema se torna suficientemente complexo, quando ele transcende seus constituintes. Consideram, assim, os humanos como um estágio especial de desenvolvimento das criaturas do universo, sejam elas naturais ou artificiais. A consciência, por exemplo, não parece ser redutível a seus processos físicos e químicos no corpo humano, ao contrário, são as crenças e os valores que controlam o comportamento consciente, ao invés dos processos cerebrais físico-químicos subjacentes. A consciência é compreendida como uma propriedade emergente não existente em um baixo nível de complexidade, como ocorre no caso dos humanoides, por exemplo. O domínio da técnica, apenas, dificilmente viabiliza as condições adequadas para o nascimento do humano. O humano configura-se, segundo alguns cientistas, provavelmente da mesma espécie, no ser cósmico que atingiu o nível de complexidade em que emergiu a boa consciência. As propriedades emergentes dos sistemas geralmente se dão na passagem de escalas de dimensões bem específicas, quando novas leis dominam em novos níveis de complexidades. Algo equivalente a dizer que o todo é incomparavelmente maior do que a soma das partes.



“O conceito que os humanos fazem de Deus está relacionado com essa compreensão dos metasistemas emergentes, pois eles percebem que existência, conforme entendemos, só faz sentido na nossa dimensão de coisas. No infinitamente grande, em escalas universais, não sabemos o que isso significa. Daí, talvez, se dizer que Deus apenas é. Existência é uma metáfora em outras dimensões de escala no universo. Algo existir ou não é um ponto de vista, veja, por exemplo, a questão: a constelação do Cruzeiro do Sul existe? Sim, mas exclusivamente para quem olha dessa região do universo. Na nossa escala humana, talvez Deus não exista. Tendemos a ser reducionistas, argumentando que fenômenos de grandes escalas podem ser explicados pelo que acontece nas escalas menores. Leis científicas e princípios organizacionais que são irrelevantes em pequenas escalas cumprem seu papel em largas escalas, em geral de forma inconsciente. Nas dimensões subatômica, humana ou galáctica, o universo de desdobra diferentemente dependendo da escala. Cada escala de tamanho no universo é única, e devemos saber observar cada uma com sua característica singular.” Etevaldo não disse nada mas identifiquei sua fala com o pensamento de um cientista terráqueo que escreveu um livro do ponto de vista de alguém situado no centro do universo.



A humanidade se revela nos seres quando estes passam a controlar seus instintos primários, e isso é um acontecimento raro, diria mesmo, raríssimo no universo, se não for esta  que aqui abordamos a única ocorrência que se tem notícia. Casos existentes alhures são sempre associados a emigrantes terráqueos. Os humanoides são laboriosos autômatos, atolados em sua recorrente falsa consciência. A consciência humana, por outro lado, é um elemento essencial desse fantástico universo em que vivemos, porque ela permite ver a partir de uma perspectiva repleta de sutilezas e complexidade.



A vida dos humanoides tem pouco a ver com eles mesmos. Embora alimentem ilusões de que podem escolher o que fazer de suas existências, os processos biológicos de alguns são governados por códigos que representam o padrão planetário de suas origens, e suas ações são tão determinísticas quanto qualquer órbita de planetas. Em outros casos, seus corpos são usados como pele por alienígenas, manipulados como se fossem uma espécie de instrumento mecânico, ou controlados remotamente por entidades originárias de locais muito distantes de onde pensam viver suas vidas. Seguem programas estabelecidos por extraterrestres, por matrizes que habitam outras estrelas e dimensões. Movem-se por intermédio de fios invisíveis que os enredam na tessitura mecânica de um estranho destino, e cumprem cada qual um papel pré-estabelecido por determinações econômicas, geográficas, climáticas, históricas, sociais, familiares, etc., que à primeira vista nos parecem fortuitas, mas que foram cuidadosamente planejadas. Eles não precisam ter consciência de seus atos para cumprirem o propósito de quem os enviou. A personalidade de muitos está predeterminada desde sua criação. São espécies de marionetes e o livre arbítrio que pensam possuir faz parte do plano original que os controla, seus mentores supremos a quem, em última instância, devem ser responsabilizados por todo o mal que seus títeres causam ao planeta. E eles de fato manifestam externamente esse controle remoto, porque a sentem como uma força invisível a que não conseguem resistir, tornam-se desprovidos de vontade própria, impulsivos, parecem sempre ocupados, se sentem continuamente solicitados, sem tempo pra nada, monitorados, com pressa, ansiosos e com mania de perseguição.  



Os humanos, por outro lado, vivem plenamente, pois tanto é forte neles o viver que só em si mesmos encontram a razão e o fim de sua vida, sabem todos que devem continuá-la a qualquer custo, dando o máximo de si mesmos em prol de seus descendentes, com os quais compartilham um sentimento de permanência além do tempo próprio de suas vidas.



Falsos sentimentos são comuns nos humanoides e quando se tem um número grande deles juntos, uns ou outros, com a oportunidade frequente de se manifestarem, a possibilidade de falsos sentimentos aflorarem cresce exponencialmente. Os humanoides do tipo não humano possuem senso de merecimento de respeito exacerbado, desejo de manipulação e de tirar vantagens dos outros. São traços predominantes nesses seres, preste atenção prezado leitor, porque isso é importante, a obsessão com autoimagem, as amizades superficiais, intensa agressividade em resposta a supostas críticas feitas a eles, levarem a vida guiada por concepções altamente subjetivas de mundo, possuírem vaidade doentia, senso de superioridade moral e tendências exibicionistas grandiosas. Apreciam demais todo e qualquer propósito repugnante. São obscuros e disfarçam muito bem uma falsa dedicação animal subalterna.



É notório na expressão dos humanoides um aspecto de ser atormentado e sem uma convicção interior profunda de que a vida faz sentido.  São em geral mal humorados, zangados, reativos, ressentidos e rancorosos. Eles nunca conseguem tomar uma decisão sem falar alto o que estão pensando. É como se eles precisassem escutar o que decidiram, justificar perante as outras pessoas, para que eles mesmos acreditem que tal decisão deve ser tomada e eles não estão fazendo nada impensado, como se pensassem realmente, e fica parecendo até que a decisão foi tomada por outra pessoa, o que de fato o foi.



Um primeiro indicativo de que uma pessoa é um extraterrestre, posso adiantar sem necessidade de frequentar cursos mais aprofundados, é ela ter apenas um filho com cônjuge terráqueo, obrigatoriamente do sexo oposto do progenitor ou progenitora alienígena, uma das consequências naturais do modelo padrão que normatiza o relacionamento sexual na Terra entre seres de planetas diferentes, que tende sempre para uma situação de equilibrio de gênero na proliferação de etnias alienígenas. Alguns alienígenas conseguem se naturalizar depois de chegarem à Terra e, depois de terem um filho com algum terráqueo, o que lhe viabiliza a naturalização, separa-se desse terráqueo e geralmente se acasala novamente com outro ET para procriarem à vontade sem restrições de gênero.



Os humanoides têm o estranho costume de falar sozinhos. Eles não sabem pensar silenciosamente, como os humanos, precisam estar sempre emitindo ou ouvindo algum som. Pode-se saber sem sombra de dúvida que são humanoides as pessoas que falam sem parar ou estão sempre ouvindo alguma coisa quando sozinhas. Se estando a sós, ainda assim continuam falando, então, pode saber que se trata de um humanoide e que sua unidade de processamento central entrou em pane, comprometendo seu equilíbrio pessoal e a voz que se ouve é uma decodificação de comandos alienígenas.  O sistema opera como se fosse uma mensagem que estão recebendo e que eles repetem para si mesmo tentando captar o sentido. Poetas, em geral, falam disso como se fosse uma música e pensam que se trata de musas inspiradoras, uma espécie de música hipnotizadora.



Um exemplo que ilustra bem o que é ser humano pode ser encontrado na obra literária “Os Miseráveis” de Victor Hugo. A obra conta a história de Jean Valjean, um homem que foge da prisão e reconstrói a vida através do trabalho. Em dado momento ele encontra uma criança chamada Cosette. Os donos da pousada em que Cosette morava ficaram responsáveis pelos cuidados da menina a pedido da mãe. Solteira e com um bebê, ela não conseguiria emprego, de modo que pediu ajuda a família que receberia boa quantia em dinheiro para cuidados da menina. Os donos da pousada, contudo maltratavam e exploravam Cosette, fazendo-a trabalhar como escrava e utilizando o dinheiro recebido em interesse próprio. Ciente dos maus tratos Jean Valjean compra a menina e foge com ela para Paris. Por ser um condenado perseguido pelo chefe polícia, Jean vive com Cosette uma vida discreta, um tanto isolada e sempre adotando nomes falsos. O tempo passa e Cosette se torna uma linda mulher que se apaixona pelo jovem Marius. Muitas coisas acontecem, até Jean descobrir o amor secreto de Cosette e Marius. Por estar sempre prestes a ser capturado pela polícia, Jean apoia o casamento dos jovens, para que Cosette tivesse uma vida segura. Após o casamento confessa a Marius sua origem, a de Cosette e confessa amá-la como homem e não pai... O resto da estória não conto, mas o que me chamou atenção foram as escolhas de Jean. Após salvar a criança Cosette da exploração pelo trabalho, Jean tinha o poder de aproveitar-se da jovem, pela qual sentia atração e afeto, pois a criou, mas fez uma escolha, o que o levou do estado da bestialidade ao dever, do apetite à consciência, do instinto humanoide ao humano, de alguém que pensa, que sente também com o coração, não somente com os hormônios.



Por outro lado, um exemplo que ilustra bem o que não é ser humano pode ser encontrado no conto literário “Eugênia”, de Carlos Rosa Moreira, conforme interpretação de Altair, uma leitora humana#. Leia sua opinião: “Não se pode considerar humano e nem achar bela a imagem de pais que se relacionam sexualmente com seus filhos. É claro isto acontece, mas nem por isso é belo. Minha opinião é que é doentio, além de criminoso. Doentio, pois um adulto que necessita se aproveitar da força e do poder (físico ou psicológico) que exerce sobre a criança que criou para obter sexo, é um desajustado que não consegue se encaixar na sociedade humana.  Ou seja, é incapaz de conseguir um parceiro que o satisfaça sexualmente. É um crime pois também impede que esta criança o faça. Sendo assim, o ato da mãe que justifica suprir seu filho com sexo para que este seja feliz não é humano, é animalesco e doentio. Esta mãe poderia ser bela, mas era desajustada socialmente. Ela poderia apresentar ao filho tantos outros prazeres (não sexuais) que a vida oferece... Não tenho conhecimento para fazer uma análise mais profunda, mas para mim pais assim tem sérios problemas.  Também não entendi a associação que se fez daquelas atitudes deploráveis como sendo atitudes humanas. Para mim as personagens do conto tinham atitudes repugnantes.”



Passemos, então, à caracterização geral dos seres e suas procedências, já que cada planeta tem uma mente que determina a natureza dos seus nativos. Inicialmente, devemos informar que os seres são sempre criados em pares, não importa se humanos ou humanoides. Inúmeros exemplos comprovam esta grande verdade da natureza, como casos de mórbidas semelhanças entre gêmeos que sequer suas mães conseguem diferenciar um do outro, sósias que são tomados de horror quando se conhecem e depois não conseguem mais se separar, incontáveis casos de pluralidade de identidades, etc., isso no plano biológico, porque no que diz respeito às duplicidades de alma as evidências nem sempre são diretas.  



Cada humanoide carrega uma marca quase imperceptível que os identifica em relação ao planeta de onde vieram. Isso aplica até mesmo aos humanos, porque alguns deles têm antepassados alienígenas e conseguiram transmutar-se em humanos. Essa mutação é rara, mas pode acontecer, porque humanizar-se é um processo alquímico de transformação interior.



Geralmente, seres de uma mesma espécie, de um mesmo planeta, tendem a ser solidários entre si, mesmo que inconscientemente, sem saber a priori que atuam em um mesmo programa de seu planeta de origem. As poucas pessoas que percebem que atuam segundo um padrão comum com outros semelhantes, começam a se questionar a ponto de chegarem a reconhecer afinidades, descobrir razões subjacentes de seus atos, indagam sobre sua procedência e passam, algumas vezes, a perseguir uma religação cósmica do seu ser com o planeta nativo, o que vem a ser seu primeiro passo no caminho da humanização, para aqueles que almejam este tipo de transmutação. Algo como confessar o pecado para ser perdoado do cristianismo.



Quando encontramos duas pessoas parecidas na Terra, elas provavelmente vieram ou são descendentes de seres de um mesmo planeta. A gente sabe quando elas têm uma origem comum quando vemos uma e nos lembramos de pronto da outra. Tais seres podem ser encontrados em várias formas e estados. Assim, não é raro que as semelhanças ocorram tanto no plano físico como espiritual. Podemos encontrar seres de diversos planetas andando pela rua, cada qual com seu tempo característico, às vezes a mesma pessoa em tempo diferente de sua existência, em sonhos ou em muitas situações inesperadas do nosso dia a dia.



O caráter das pessoas é uma combinação complexa que depende do tipo espectral da estrela central onde ela nasceu; o número de luas que giravam em torno de seu planeta natal e da abundância química da nuvem que originou seu sistema planetário. Pode até não ter sido elas que migraram pelo cosmos em direção a este planeta, mas algum antepassado delas, se elas alegarem não saber nada a respeito. As pessoas evitam falar sobre isso. A verdade é que a Terra é uma espécie de terra de ninguém cósmica, uma zona franca existencial, um faroeste sideral. Muitos que querem começar uma nova vida vêm para cá, foragidos, alheios a qualquer plano sistemático de conquista ou destruição. E fazem questão de que as gerações posteriores esqueçam suas origens para evitar algum tipo de abdução inesperada.



E assim procede a identificação dos seres em geral: quando as pessoas são diferentes, mas existe afinidade entre elas, embora se diferenciem fisicamente, muito provavelmente elas vieram do mesmo sistema estelar. Facilmente se estabelece entre elas certa cumplicidade, certa simpatia instantânea. Quando sentimos atração física por alguém, isso pode significar que originamos de um mesmo sistema estelar, embora não necessariamente de um mesmo planeta, dependendo da intensidade da atração. Quanto maior o número de estrelas em um sistema, maior a diversidade de atrações. No caso do sistema solar, por exemplo, que não se tem certeza se existe uma companheira anã do Sol, os seres originários deste sistema vivem uma espécie de ambiguidade emocional. Os seres provenientes de sistema duplos, ternários, etc., geralmente têm muita dificuldade de se aterem a relacionamentos sexuais com apenas uma pessoa, havendo uma propensão a se relacionarem com tantas pessoas quantas forem as estrelas de seu sistema de origem, independente do fato de todos sejam gerados aos pares.



Alienígenas originários de sistemas planetários em que a estrela central irradia principalmente em raios X desenvolveram a visão nessa faixa do espectro eletromagnético pela mesma razão que os terráqueos enxergam melhor a luz mais intensamente irradiada por seu sol. Os olhos dos seres vivos têm capacidade de se desenvolver para captar radiação que esteja mais disponível pelo seu ambiente. Por conta disso, tais seres que não tem nada de super homens, muito ao contrário, costumam ser contratados como fiscais nos aeroportos e espaçoportos terrestres. Os raios X diferem da luz visível apenas no aspecto do seu comprimento de onda; a luz visível tem comprimento de onda de alguns décimos de milionésimos de metro enquanto os raios X medem menos de um centésimo de milionésimo de metro.



Analogamente, por terem sido gerados sob condições ambientais diferentes, os seres de outros planetas muitas vezes vêem a realidade de maneira diferente da dos terráqueos. A exemplo dos animais, o gato por exemplo, que muitas vezes surpreendemos com os olhos fixos no espaço, sentados por longo tempo no vão de uma escada ou dissimulando uma preguiça traiçoeira de cima do sofá. Sabemos que eles vêem coisas que sequer imaginamos, como seres alienígenas que são. Uma amiga minha oriunda da Super Terra possui sete desses bichanos em sua casa e todos a temem na vizinhança pelas coisas extraordinárias que testemunham acontecer em sua morada.



Alguns seres são feitos de luz e, por isso, são transparentes para os humanos. Têm um estranho poder de absorção dos pensamentos e sentimentos dos outros, o que faz com que se pensem que eles sejam espíritos desencarnados de parentes e conhecidos, porque ao nos aproximarmos deles, projetamos nossas próprias expectativas em relação ao que poderiam ser tais seres. Alguns desses seres de luz se divertem com essa situação e se fazem passar por entes mortos queridos dos consulentes. São incontáveis as quantidades de mundos paralelos, de seres sombrios formados de matéria não bariônica, matéria escura, que fazem investidas em nossa dimensão na expectativa de criarem um link permanente conosco.



Três povos distintos predominam entre os terráqueos e formam a base do que veio a compor a complexidade de seres no planeta Terra, resultado da conjunção de três diásporas: a dos povos que fugiram da colisão entre duas galáxias do aglomerado de virgem; a dos fugitivos de uma explosão de uma estrela supermassiva na própria via-láctea, nas coordenadas de (-253.45°, 63.39°), em longitude e latitude celestes; e os exilados de Capela. A miscigenação terrestre é extraordinária, e sua maior concentração se situa no Brasil, especificamente no Rio de Janeiro. O maior índice de miscigenação cósmica se encontra na cidade fluminense de Niterói. São raros os humanos nessa cidade papa goiaba, onde grassam a dualidade, a ambiguidade e tudo aquilo que os humanoides devem superar para se tornarem humanos. Há casos críticos de pluralidade que fariam Fernando Pessoa parecer a mais íntegra das personalidades humanoides. Dizem até que a dualidade cósmica nasceu ali, e se propaga de forma epidêmica numa velocidade taquiônica até um presumido estado de big rip pessoal, tendo já sido constatado alguns casos na região, mas essa é uma outra história que o autor dessa narrativa talvez não queira incluir na edição do seu primeiro livro.



Muitos dos que encontramos pelas ruas são viajantes do tempo, que vieram do futuro, por exemplo, para nos dizer alguma coisa e que, infelizmente, em geral, não conseguem ser bem sucedidos. Pode ser que encontremos a nós mesmos, vindo do futuro. Esses seres são, em alguns casos, confundidos com anjos, mas anjo é outra coisa. Os anjos vêm de um planeta específico comandado por um senhor muito dominador. Esses só se deixam ser vistos quando querem, ao utilizarem uma técnica de manipulação da energia biolétrica patenteada em seu planeta.



Alguns seres transcendentais não são percebíveis por meio dos sentidos ordinários, o sendo apenas através de outros canais como, por exemplo, os sonhos dos humanos ou dos humanoides. Tais seres são facilmente identificáveis porque são sempre anônimos nos sonhos e estão sempre presentes, como uma sombra. Quando finalmente se consegue identificá-los e interagir de forma mais eficaz com eles  nos sonhos, no caso dos humanos, e despertos, no caso dos humanoides, grandes transformações se ensejam na vida dos que experimentam esse fenômeno. Eles são os guardiães de novas dimensões existenciais, sejam lá o que isso significa.



Alguns humanoides são procedentes de universos paralelos e de uma era que vai além do big bang, a explosão primordial que deu origem a este universo em que vivemos. Sua energia biolétrica resistiu intacta à grande ruptura cósmica que ocorreu no big bang. Procede desses sobreviventes o relato de que antes de criar o mundo, Deus se ocupava de criar o inferno para aqueles que o importunassem com perguntas impertinentes.



Um povo extraterrestre que tem aumentado significativamente nos últimos anos na Terra são os arquilianos. Eles usam traje humano mecânico, em outras palavras, vestem a pele de humanos, que é usado para proteção e locomoção, o que também serve para esconder sua verdadeira forma. Grande parte da sua energia é consumida para conduzir o traje mecânico, e, por conta disso, muitos usam um piloto automático para tornar a vida mais fácil. Para fazer o traje humano funcionar sem levantar suspeitas, eles necessitam de atualizações frequentes do software de seu cérebro. Chico Mendes e Chico Buarque são exemplos de personalidades arquilianas, embora o fato de ambos se chamarem Chico seja mera coincidência, nada tendo a ver com nome genérico para essa espécie. Roberto Carlos também é uma personalidade arquiliana, mas isso nunca foi segredo para ninguém. Outros exemplos de extraterrestres são os Fmeks, inimigos viscerais dos arquilianos,  cujas celebridades que os representam no planeta Terra são o ruralista Ronaldo Caiado e o cantor Reginaldo Rossi. Vale mencionar também a presença significativa dos modernos alienígenas cinzentos greys.



Deve-se ter cuidado nas conversas com os terráqueos porque a gente nunca sabe se estamos falando com um humano ou com um humanoide e, em geral, esses últimos não primam pela franqueza. Há uma ambiguidade esquiva, mas sistemática. Houve um momento remoto na história do planeta Terra em que surgiu um movimento libertário entre os humanos com o objetivo de exterminar os humanoides. O foco foi identificado e eliminado sigilosamente, sem muito estardalhaço. O questionário que eles usavam para identificar quem não era do gênero humano foi preservado e continha elementos supostamente suficientes para identificar os extraterrestres e clones.



Antes de apresentar o questionário, no entanto, vale a pena mencionar uma informação adicional sobre os clones. Uma grande quantidade de pessoas que vemos no mundo são de fatos clones usados para substituir as pessoas originais. As pessoas originais que foram trocadas por clones foram levadas para o interior do planeta onde existem, como à superfície, cidades, campos, rios, bosques e desertos, um mundo em tudo cópia e reflexo deste em que vivemos, criado por senhores sombrios para fazer experiências com os seres humanos, visando seu completo aniquilamento e substituição por uma outra espécie de habitantes. Todo este plano está mancomunado com governantes de diversos países.



A espinha dorsal do plano de destruição dos humanos pressupõe o mínimo de informação sobre a presença de alienígenas na Terra. Após terem dominados o governo das principais potências internacionais, com o mínimo de estardalhaço, elegendo seus representantes em países democráticos e galgando o poder pela força onde se fazia necessário, os representantes na Terra dos senhores supremos se empenham, por meio de campanhas governamentais, em programas de imbecilização da população e esquecimento de suas origens planetárias.  Para isso, contam com super produções hollywoodianas com o objetivo de convencer a população que senhores supremos como Galactus, o devorador de mundos, por exemplo, já teria sido destruído por heróis fictícios, embora sua destruição tenha sido apenas insinuada em uma de suas releases.




Anamnese para identificação de ETs e clones:



Eis o questionário a que se atribuía 96,67% de probabilidade de sucesso no reconhecimento de um extraterrestre ou do clone de alguém que foi substituído pelos ETs da destruição. O questionário era usado no manuscrito original para identificar de fato os humanos, e foi adaptado posteriormente pelos humanos para aplicação reversa.




  1. Nome:
  2. Data de Nascimento:
  3. Local:
  4. Sexo:
  5. Se do sexo feminino, você alguma vez esperou a chegada de um príncipe encantado em sua vida?
  6. Quantas certidões de nascimento você tem?
  7. Estado Civil:
  8. Quantidade de filhos e filhas:
    1. Filhos:
    2. Filhas:
  9. Qual a recordação mais antiga que você se lembra? Descreva:
  10. Você já solicitou atestado de sanidade mental alguma vez?
    1. Caso afirmativo, quando?
    2. Por quê?
  11. Você acredita em discos voadores?
    1. Em caso afirmativo, já viu algum?
    2. Já fez contatos com ETs?
    3. Qual o grau do contato?
    4. Descreva sua(s) experiência(s):
  12. Você aprecia literatura repugnante?
  13. Você ouve mais do que fala, em geral?
  14. Você acha necessário tomar banho todos os dias?
  15. Você é um alienígena?
    1. Em caso afirmativo, declare-se:
  16. Você é um clone?
    1. Em caso afirmativo, declare-se:



O questionário passou a fazer muito sucesso também entre as pessoas sem alma, porque elas acreditavam que respondendo-o e sendo diagnosticado como clone, haveria salvação possível para si, mesmo sem alma, pelo simples fato de terem tomado consciência de sua condição. O instrumento funcionava como uma espécie de mapa astral tamanha era a desorientação geral dos seres.  



Os alienígenas chegam à Terra de duas maneiras possíveis: após uma gestação geralmente de nove meses das mulheres#, que nunca são humanas, ou viajando pelo hiperespaço, pelo comumente chamado buracos de minhocas. Migrações clandestinas interestelares existem, mas é rigorosamente vigiada e os infratores punidos exemplarmente.



Embora a imigração de extraterrestres seja controlada de maneira muito rigorosa, observa-se cada vez mais relatos de alienígenas que burlam o sistema de detecção terrestre e fazem incursões nas cidades do planeta. Há uma grande diversidade de alienígenas de todos os tipos, desde aqueles com poder intelectual admirável a aqueles que são verdadeiros idiotas, alguns exibem ferramentas e equipamentos avançados em questão de tecnologia e outros, ao contrário, encontram-se em estágios bem primitivos. Apresentam-se com grande diversidade de características físicas, estatura que variam de 60 cm a 2,20 m, membros e cabeça desproporcional ao corpo; em geral, mostram narinas de todos os tamanhos, cor de pele com tonalidades marcantes podendo ser verdes, cinzas e com olhos extremamente grandes e linguagens incompreensíveis. Obviamente, aqueles que são aceitos como imigrantes na Terra passam por cirurgias plásticas para passarem despercebidos, principalmente mudando suas cores, seus olhos de insetos e orelhas pontiagudas.



Prezado leitor, espero sinceramente que você tenha tempo de concluir a leitura desse relato, talvez encontrando uma forma de fugir desse planeta antes que seja tarde demais.